Automação
A Geração dos herdeiros digitais
Marcelo Martinez
Publicado em 10/11/2017 às 10:17
As empresas familiares fazem parte do cenário econômico em todo o mundo e sua importância para a geração de emprego e renda é inegável. De acordo com pesquisa do Sebrae, 90% das empresas brasileiras são familiares e responsáveis por 62% do PIB e 60% dos empregos formais. Além de tudo isso, mesmo diante de uma realidade tão desafiadora, em um cenário de competição mais intensa e mudanças aceleradas, as empresas familiares continuam se expandindo.
No Brasil, 79% delas cresceram nos últimos meses – 14 pontos percentuais acima da média global, e o ritmo deve se manter, em especial pela adoção de novas tecnologias. Entretanto, apesar dessa representatividade, estar na companhia de familiares, não é garantia de sucesso. Um bom exemplo para essa afirmação é que apenas 30% das empresas familiares se mantêm no mercado após a primeira transição entre gerações. Já quando alcançam a terceira geração, o índice não passa dos 5%. Sem dúvida são taxas de mortalidade altas que poderiam ser menores se as novas gerações tivessem as condições, competências e habilidades para assumir o negócio, em especial conduzindo a sua transição na era digital.
De fato, a cada geração, os ciclos de mercado estão menores. A velocidade dos avanços tecnológicos é sem precedente na história. Grandes movimentos digitais como mídias sociais, big data, mobilidade, computação em nuvem e robótica, estão descontruindo antigos modelos de negócios em todos os setores da economia, do varejo à manufatura. A tecnologia está mudando a forma como as empresas fazem negócios. A concorrência está melhor preparada e o comportamento do consumidor mudou, exigindo mais atenção e interação em múltiplos canais, online e off-line. O novo gestor precisar aprender a assumir riscos, tomar decisões corretas e rápidas, atrair e reter talentos, e principalmente, saber inovar com resultado neste novo mundo digital, mantendo a cultura e valores da empresa.
Uma pesquisa recente da PwC com empresas familiares de 31 países concluiu que os herdeiros pertencentes às gerações Y e Z estão chegando mais bem preparados para exercer o comando dos negócios familiares. Entre eles, 70% acumulam experiências prévias em empresas não familiares, com acesso às melhores práticas de gestão. Além disso, as novas gerações carregam consigo uma característica imprescindível para a complexa e rápida mudança que vivemos hoje: a mentalidade digital. Entender o mapa de tecnologia em constante evolução que rodeia as empresas é fundamental e precisa estar no radar de qualquer empreendedor que pensa e age no mundo digital. Os novos herdeiros digitais nasceram com a internet, não diferenciam a realidade online da off-line e usam smartphones, tablets e redes sociais com facilidade e frequência para resolver diversas situações do dia-a-dia.
Entretanto, mesmo em sucessões bem-planejadas e harmoniosas, os novos empreendedores enfrentam dificuldades para ocupar seu espaço nas empresas de sua família. Não basta assumir postos de comando e ter agendas de negócios e planejamento; o sucessor precisa vencer a resistência interna para transformar a empresa de uma operação tradicional para uma digital. Soma-se a isso, a desconfiança dos fornecedores, clientes e colaboradores em relação a sua falta de experiência, conforme aponta a mesma pesquisa que mostra que herdeiros de empresas nacionais, comparados com seus pares em outros países, ingressam no negócio familiar muito mais jovens.
Seja familiar ou multinacional, de pequeno ou grande porte, a melhor solução para que a empresa cresça continua sendo adquirir um alto grau de profissionalização, priorizando o seu interesse sobre o da família, e implementando valores e uma mentalidade digital. Somente com a profissionalização da empresa (ou da família), elas poderão se reinventar e evoluir para uma visão mais moderna, com novas oportunidades comerciais e operações mais lucrativas. O sucesso independe da natureza do negócio, mas da maneira coerente de como os novos gestores abordarão os negócios, libertando-se de amarras emocionais que os mantêm presos a formas de trabalho ultrapassadas ou a unidades de negócios de baixo desempenho criadas por seus antecessores. Não há dúvida de que os desafios dos herdeiros digitais são muito maiores que os das gerações anteriores, mas também não há melhor aposta de que somente eles poderão conduzir a empresa nesse novo cenário, convergindo a experiência e valores da gestão anterior com a sua capacidade de enxergar oportunidades na amplitude de um novo universo ainda a ser explorado, com várias mudanças disruptivas a acontecer.

