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Em Pauta

B@bel

Marcelo Medeiros

Publicado em 04/04/2011 às 22:27


O termo “Torre de Babel”, ou simplesmente “babel”, já desprovido de suas origens religiosas, atravessa os séculos chegando com o mesmo significado e em alta definição ao universo digital: confusão e dificuldade de comunicação entre interlocutores. Sem pretensão de resolver os conflitos do grande planeta azul, falemos um pouco da b@bel verde-amarela.



 



O Brasil multiplica seus negócios sob os auspícios do e-business em que empresas locais vendem seus produtos aos diversos continentes sem qualquer contato físico. Mas vivemos também um aumento de interações presenciais com pessoas de outros países e culturas. Várias empresas internacionais operando aqui utilizam competentes estrangeiros em suas equipes brasileiras, lidando com clientes e parceiros de negócio. Essa diversidade humana produz riqueza e desenvolvimento, mas também constrói uma b@bel cinematográfica, muitas vezes levando à falência relações pessoais e comerciais. Não tanto por causa das diferenças de idioma, que apesar de relevantes,  encontram remédio de prateleira. A principal dificuldade é o abismo cultural entre as partes, sejam entre culturas vizinhas ou mesmo intercontinentais. O remédio para esse mal potencialmente crônico não se encontra facilmente nos melhores estabelecimentos do ramo, já que normalmente é difícil definir certo e errado na seara cultural.



 



Lembro que um executivo estrangeiro recém-chegado à subsidiária brasileira e ainda empenhado em aprender o idioma comentou que os brazucas eram educados demais em termos de gestão de pessoas. Ele precisava mudar isso para poder incrementar a produtividade da empresa. Mais agressividade no tratamento dos funcionários, golpes na mesa e mais competição interna seriam as medidas. Eu sabia que em seu país de origem, a etiqueta era exatamente assim. Mas confesso que não fui convincente quando ofereci minha opinião de observador externo. Por outro lado, sem generalizações mas com certeza estatística, nós brasileiros achamos que somos diferentes em tudo, e que ideias desenvolvidas no exterior não têm sucesso aqui. Pensamos que nossas dificuldades são únicas e portanto devemos ter liberdade ilimitada. Além disso, adoramos levar a discussão de negócios para o lado emocional. Certamente as complexidades fiscal e trabalhista não facilitam a vida de empresas e seus executivos estrangeiros, mas com eles temos muito a aprender em termos de processos globais e gestão de qualidade, só para citar alguns exemplos.



 



Fica então o seguinte ponto para reflexão para empresas internacionais operando no Brasil: brasileiros emocionais + empresa ignorando diferenças culturais + imposições a qualquer custo + grande oferta de trabalho no mercado + falta de talentos = brasileiro trocando de empresa. Equação perigosa e cara, mas frequente nos dias de hoje, sobretudo da base da pirâmide até a média gerência. Agora um ponto para reflexão para os brasileiros: nossa impaciência com ideias internacionais e a tendência à overdose emocional podem nos desvalorizar profissionalmente e limitar nossa carreira. Finalizando, para a reflexão de ambos, brasileiros e empresas estrangeiras: separados não iremos a lugar algum. Juntos, seremos imbatíveis no cenário global de negócios. A verdade não está nos extremos, então que a procuremos conjuntamente no meio do caminho.



 



PS: Recomendo o filme “Babel”, indicado a 7 oscars em 2007, escrito por Guillermo Arriaga e dirigido por Alejandro González Iñarritu. De uma forma densa e nervosa, esse drama apresenta a grande paisagem multicultural e interconectada que invade nosso cotidiano. Feliz abril a todos.