Opinião
Ciclo de conversão de caixa
Publicado em 27/06/2012 às 16:18
Vladimir França é diretor executivo da Abradisti
O tema de hoje é mais um exercício de reflexão, e talvez de ação, sobre o ciclo de conversão de caixa (doravante usaremos a sigla CCC para identificar) das empresas. Esse cálculo tem por finalidade medir o quão rapidamente uma empresa pode converter caixa em mais caixa. Serve para mostrar a eficiência em administrar os seus ativos e passivos de curto prazo para a geração de caixa. Obviamente os cálculos e as análises vão variar de empresa para empresa, dependendo do tipo de negócio.
Esse ciclo se inicia com o caixa propriamente dito, que se converte em estoques e contas a pagar, depois em vendas e contas a receber, e volta ao caixa novamente.
O cálculo pode ser feito para períodos mensais, trimestrais ou mesmo anuais e, em grande parte dos casos, tem sido muito usado para fazer comparações com outros competidores do mercado onde a empresa atua.
A fórmula para esse cálculo é a seguinte: CCC = DSO + DIO – DPO, sendo DSO (Days of Sales Outstanding) o número de dias que serão necessários para receber as vendas; DIO (Days of Inventory Outstanding) o número de dias que se levará para vender todo o estoque de produtos; e DPO (Days of Products Outstanding) o número de dias que a empresa levará para pagar os seus fornecedores.
No caso desses indicadores, quanto menores forem o DSO e o DIO, ou seja, quão mais rápido você receber as suas vendas e quão mais rápido você girar os seus estoques, será melhor para o caixa da empresa. No caso do DPO, quanto maior for, ou seja, quanto mais prazo você conseguir para pagar os seus fornecedores, haverá um impacto positivo no caixa da empresa.
Tomando-se por base informações das Demonstrações Financeiras dos dois últimos exercícios, a fórmula para o cálculo de cada um dos indicadores seria:
DSO = Média do Contas a Receber / (Vendas/365)
DIO = Média do Inventário / (Custo dos Produtos Vendidos/365)
DPO = Média do Contas a Pagar / (Custo dos Produtos Vendidos/365)
Para se calcular as médias mencionadas nas fórmulas acima, é preciso somente somar o valor inicial e o valor final de cada um dos itens e dividir por 2.
Se o resultado desses cálculos for analisado isoladamente, eles podem não significar muita coisa, mas se essa mesma análise for feita para diversos anos, teremos uma comparação muito boa sobre a melhora ou a piora da forma como a empresa vem administrando seus recursos de curto prazo para a geração de caixa. Essa análise dos dados da sua empresa ficará melhor se esses dados forem comparados com os mesmos de seus concorrentes, nos mesmos períodos. A tendência em cada um desses números pode indicar melhora ou piora na saúde do seu negócio.
Se a somatória de seu DSO e do seu DIO for maior do que o seu DPO, que é a situação mais comum, certamente você estará utilizando capital próprio ou capital de terceiros para financiar o seu caixa. Cabe então analisar qual o impacto que esse custo terá sobre o resultado.
Nas empresas de distribuição de produtos de tecnologia, onde as margens são bastante estreitas, esses indicadores têm que ser acompanhados muito de perto, pois os custos financeiros (no Brasil juros reais de 7% ao ano) podem absorver uma grande parte do seu resultado final.
Se a sua empresa nunca fez esse tipo de cálculo e comparação com os concorrentes, seria uma boa hora para começar, e tenho a certeza de que você irá se surpreender com os números. Poderá concluir que os prazos de pagamento que os seus clientes estão exigindo de você são incompatíveis com os que vêm sendo praticados pela concorrência, ou mesmo muito descolados do prazo de pagamento dos seus fornecedores. Poderá constatar que o giro real dos seus estoques está menor do que aquele que seria ideal, e esse fato, num mercado de rápida obsolescência como o de tecnologia, pode impactar mais ainda seu caixa e piorar ainda mais o resultado final da empresa. Se você importa mercadorias, o impacto vai ser ainda maior, primeiro porque os prazos de pagamento começam a contar a partir do faturamento do fornecedor e, segundo, porque o montante de produtos em trânsito já tem que ser considerado em seu estoque para o cálculo.
Então, mãos à obra!