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RH

Mulheres em cargos de alta liderança

Milene Lopes Schiavo

Publicado em 08/08/2016 às 13:52

Desejo, desafio e dilema


É cada vez mais comum a ascensão das mulheres a cargos de alta liderança nas organizações. Primeiro porque elas estão extremamente preparadas para assumir essas posições e, segundo, porque buscam este reconhecimento, ou seja, desejam conquistar altos cargos. Além disso, existe hoje uma abertura muito maior à promoção de uma mulher, considerando que por muitos anos o ambiente corporativo, no que tange aos altos cargos, era predominantemente masculino.

Embora o número de mulheres nas posições executivas ainda seja inferior ao número de homens e, em termos salariais, ainda ganhem menos, podemos dizer que as mulheres conseguiram conquistar muito espaço nos últimos anos. E sabemos que este movimento tende a crescer, ou seja, será cada vez mais comum as mulheres presidirem organizações, unidades de negócios e liderarem grandes equipes.

A questão é que embora elas tenham o desejo de estarem lá e estejam prontas para o desafio, na hora que este momento chega, muitas vezes, vira um dilema. Se por um lado a mulher quer ser reconhecida pela sua competência, uma alta posição executiva tem o seu “preço”. Exige muito do profissional, principalmente em termos de tempo dedicado à organização. Quantos executivos trabalham diariamente 12, 13, 14 horas? Essa rotina não é diferente para a mulher. Se ela não tem uma família, especialmente filhos, tende a lidar com a situação de uma forma mais tranquila. Quando se coloca “filhos” neste cenário dificulta um pouco.

Geralmente, a mulher executiva que tem filhos vivencia dilemas diários e constantes entre a sua dedicação ao trabalho e à família. Se por um lado ela quer ser uma profissional de sucesso, por outro lado também quer ser uma mãe bem sucedida. A questão aqui é como equilibrar essas demandas, que certas vezes, parecem ser conflitantes. Por essa dificuldade em conciliar carreira e vida pessoal e, por falta de flexibilidade das organizações, muitas mulheres estão deixando as empresas onde trabalham para seguir outros caminhos profissionais. Já se fala até no termo “opt-out”* que significa, numa tradução livre, o “cair fora” da vida corporativa.

Será que esse é o melhor caminho? Se por um lado a mulher passa a ser mais dona do seu tempo e poderá exercer o seu papel de mãe como gostaria, se ela foi preparada para o mercado de trabalho, o dilema não deixará de existir. Passaremos a ter mulheres em casa, mas frustradas por não estarem realizando seu sonho de carreira. Será que assim será uma excelente mãe?

Se a mulher tem competências que agregam muito às organizações e foi preparada para estar lá, talvez o que falte é uma adequação do mercado e até uma abertura na nossa Legislação Trabalhista para que possamos ter condições de trabalho diferenciadas.  Para que a mulher possa atuar na sua plenitude de profissional, mulher e mãe, necessita de uma proposta profissional diferente.

Se isso fosse possível com certeza teríamos mais mulheres ascendendo nas organizações e aceitando posições estratégicas. Teríamos menos mulheres deixando, ou planejando deixar, suas empresas e carreiras. Teríamos ainda mulheres que se dariam o direito de engravidar, sem medo de perder seu emprego na volta. E ainda teríamos menos tratamentos de inseminação artificial, pois hoje isso acontece como uma consequência das mulheres que focam na carreira e, após os 40, quando o desejo de ser mãe já é incontrolável, mas o melhor momento biológico já passou, precisará de ajuda da medicina.

Convido as empresas que estão lendo este artigo a pensar se representam um ambiente realmente inclusivo para essas mulheres. E, caso contrário, o que podem começar a fazer sobre isso? No mundo diverso de hoje, ter mulheres em altos cargos de liderança é extremamente positivo. Mais positivo será se essas mulheres tiverem condições de vivenciar, de fato, o equilíbrio entre carreira e vida pessoal.



*Opt-out: termo usado pela primeira vez em 2003, pela jornalista Lisa Belkin no The New York Times para falar do movimento de mulheres saindo do mercado de trabalho.