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Estratégias Digitais

Neurotecnologia: realidade ou ficção científica

Marcelo Martinez

Publicado em 13/08/2019 às 16:06

Foguetes reutilizáveis, cidades em Marte, trens viajando a velocidade do som, casas autossuficientes em energia, carros autônomos. Para Elon Musk, o homem à frente da Tesla e da SpaceX, não existe o impossível. Para cada projeto, ele cria uma empresa, investe milhões e gera uma expectativa enorme na sociedade. 

Nesta esteira de ficção científica e realidade, no último mês de julho, depois de anos operando sob forte sigilo, detalhes sobre uma de suas mais ousadas apostas foram finalmente revelados ao mercado. A Neuralink, lançada em 2017 com o desafio de integrar a atividade cerebral a um sistema digital através de dispositivos implantados em pessoas, apresentou em um evento na Academia de Ciências da Califórnia, em São Francisco, avanços promissores de suas pesquisas e anunciou que começará testes em humanos já no ano que vem.  Para obter a conexão mente-máquina, no melhor estilo Matrix, a Neuralink apresentou um pequeno dispositivo que ficará atrás da orelha, parecido com um casulo, conectado a centenas de pequenos fios, ou threads, mais finos que o cabelo humano e quase invisíveis a olho nu, a serem implantados cirurgicamente no crânio do usuário através de um robô especialmente construído para realizar esta tarefa com alta precisão. O objetivo da empresa no longo prazo é fazer com que os implantes sejam tão seguros, confiáveis e simples que possam entrar no campo de uma cirurgia eletiva, como se fosse uma correção de miopia a laser.  Como de costume, Musk também falou de planos mais futuristas (e polêmicos) como dar aos humanos “a opção de se fundirem à inteligência artificial” trocando ideias com um computador e aumentando a capacidade mental de pessoas saudáveis. Improvável ou não, o fato é que é difícil apostar contra alguém bem-sucedido em contrariar a lógica dominante com suas invenções.  Obviamente, a tecnologia ainda é embrionária e o caminho para o desenvolvimento e a aprovação de uma solução comercial segura em humanos promete ser longo. Entretanto, com o sucesso de testes preliminares em animais de laboratório, as expectativas com o projeto aumentaram, prometendo possibilidades sem precedentes na história para pacientes com doenças neurológicas e portadores de restrições motoras e sensoriais, como deficientes visuais e auditivos.  Neste campo lotado e em expansão da neurotecnologia, além da Neuralink, diversas empresas e laboratórios acadêmicos estão desenvolvendo estudos similares para fins médicos, recreativos e até militares. Exemplos dessas iniciativas são a do Facebook, Pentágono e CTRL-labs, esta última uma startup de Nova York que arrecadou em maio US$28 milhões em uma rodada de financiamento liderada pela GV, braço de capital de risco do Google.  Apesar dos avanços, muitos pesquisadores se mantêm cautelosos sobre a viabilidade da fusão entre cérebros e computadores. Um dos principais desafios a serem superados segundo eles, além da rejeição do próprio implante pelos sistemas de defesa do organismo, é o fato de que nosso cérebro trabalha com tarefas de administração distribuídas entre áreas conectadas, exigindo comandos simultâneos em diversas partes, algo inviável para um implante cerebral. Seja como for, as críticas não parecem ser um problema para a Neuralink, que anunciou recentemente a ampliação da equipe do projeto, nem para o próprio Musk, que investiu US$100 milhões na empresa e continua sendo seu principal embaixador no mercado.  Musk há muito afirma que a única maneira de os humanos conseguirem acompanhar a IA no futuro é se tornando simbióticos com máquinas. A sua busca constante pela inovação capaz de nos levar a uma nova etapa evolutiva está no centro de seus investimentos e movimenta mercados. Afinal para alguém que sempre ouviu que uma empresa privada nunca poderia enviar foguetes para o espaço, o impossível só existe até ser realizado.