Estratégias Digitais
O calvário do Facebook
Marcelo Martinez
Publicado em 02/03/2022 às 14:47Em outubro de 2021, em um comunicado surpreendente, o Facebook anunciou a mudança de seu nome para Meta. O plano era simples: recuperar sua popularidade junto ao público jovem e atrair novos usuários, através da liderança no desenvolvimento de ambientes imersivos na internet, também conhecidos como metaverso.
A estratégia mirou enormes oportunidades. A posse virtual vem se tornando um fenômeno e as pessoas na busca de experiências digitais únicas, inéditas e não-reprodutíveis no mundo físico, estão investindo cada vez mais em experiências imersivas, impulsionando o crescimento e o poder explosivo de consumo do metaverso. Só para citar um estudo, a consultoria Grayscale Investments afirmou que o metaverso possui potencial para gerar US$ 1 trilhão por ano de negócios em diferentes setores. Como imaginar que uma empresa inovadora e dominante como o Facebook não olharia para esse novo consumidor?
Entretanto, nem todo plano é perfeito e após o anúncio em fevereiro de sua primeira queda de usuários em 18 anos de existência, o que vimos foi a maior desvalorização na história em um único dia de uma companhia americana, despencando inacreditáveis US$ 250 bilhões em valor de mercado. A pergunta que fica é se realmente o mercado metaverso é tão grande, por que a Meta, uma empresa com tantos recursos disponíveis está passando por uma crise tão aguda de credibilidade?
Para essa resposta primeiramente precisamos compreender que os problemas da empresa vão além do metaverso. Não é de hoje que novos concorrentes como o TikTok vêm conquistando legiões de usuários e abocanhando parte do faturamento das plataformas sociais da empresa. Além disso, no final do ano passado, a nova política de privacidade da Apple foi um duro golpe para a Meta, na medida que bloqueou o compartilhamento de dados com o Facebook e Twitter, impactando seus algoritmos de publicidade. Fora tudo isso, soma-se os problemas da empresa com os órgãos antitruste e com denúncias de priorização do lucro em detrimento do público. Sim, não são tempos fáceis para Zuckerberg.
Entendendo a urgência de um novo plano, o metaverso tornou-se a principal aposta da Meta, porém nesta vez, sem o pioneirismo que a levou a construir uma das maiores empresas da atualidade. Iniciativas da empresa como a Reality Labs se tornaram prioridades e apesar de terem tudo para despontar no metaverso, mostraram que ainda precisarão de tempo para entregar os resultados prometidos em um mercado repleto de competidores muito bem-posicionados.
Ainda não se sabe se a Meta voltará a ter a grandeza do Facebook, mas o que se pode apostar é que os próximos meses serão decisivos para que ela mostre ao mercado que está no caminho certo e que a queda de usuários não foi apenas o primeiro sinal de que algo pior ainda está por vir. Afinal, na vida real não existem avatares, e sim investidores sedentos por lucros.